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id da página: 3815 Evangelho de Tomé - Logion 108

Evangelho de Tomé - Logion 108

Jesus disse: O que mata sua sede em minha boca se tornará como eu, e eu também me tornarei ele; e o que está oculto se revelará. (Roberto Pla)

EVANGELHO DE JESUS

  • Ora, no seu último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. (Jo 7,37)

Hermenêutica

Roberto Pla
O logion aborda a consumação da unidade perfeita segundo foi pedida por Jesus em sua magna oração: “que sejam perfeitamente um”.

  • E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um; eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim. (Jo 17,22-23)


Realizar a unidade perfeita é a obra designada ao homem, e os trabalhos encaminhados de um viver que de outro modo aparece em grande medida vazio de sentido.

O Caminho verdadeiro do homem é consumar-se na unidade perfeita. Ao não levar em conta esse propósito ocorre que os passos que cada homem dá na vida permanecem privados de um projeto superior que os redima; isso equivale a viver no vazio, sem o alento que traz o fato bem-aventurado de cumprir a obra de unidade para a que todos os homens fomos convocados ao nascer.

A consumação da unidade perfeita só pode cumprir-se se os passo até esta unidade se endereçam justamente a revelar o que está oculto: o Filho do homem imanente-transcendente.

Se diz que o Filho do homem está “oculto” porque a consciência do homem “natural” o ignora, embora seja o “si mesmo”. Isto é descobrir o vínculo verdadeiro e único da unidade perfeita.

Descobrir é igual a consumar. Se descobre com esses olhos avançados do conhecimento. O verdadeiro conhecer é idêntico ao ser, um conhecer fundo que exige uma realização direta, uma transformação que converte em manifesto o que estava oculto.

A transformação é aquela consumação pela qual cada um acede a ser o que é e não o que creia ou queira ser. Este é um ser atemporal que equivale a conhecer e cumprir em seu sentido direto o significado do verdadeiro nome de Deus: Eu sou o que sou.

Na revelação neotestamentária essa realização direta se denomina “comer”, ou também “beber”, pois ambas formas são o alimento de Vida que há de se receber e assimilar para chegar a essa transformação que converte em manifesto o Ser real, até então oculto. Esta realização é o pão do céu que todo homem necessita receber cada dia para transformar-se, e a água que brota para Vida eterna quando se busca, e que acalma a sede para sempre.

Também está a serviço desta realização a carne e o sangue verdadeiros que espírito e Vida. O Filho do homem serve de alimento e se sangra de verdade para que a unidade que consiste em realizar-se como Eu sou o que sou, possa ser consumado por todos.

  • O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. (Jo 6,63)
  • Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. (Jo 6,53)


O comer e beber (v. alimento) o espírito e a Vida, o receber e assimilar o Filho do homem — o Cordeiro de Deus — até ser “um”, é o que o logion explica como “beber na boca” de Jesus o Vivente. Como foi dito no evangelho, o pedaço molhado em seu prato que Jesus dá (Judas), serve para lançar às trevas de fora ao Príncipe deste Mundo. Essa é a expulsão prévia e necessária para que a Glória que o Pai deu ao Filho invada ao homem e o transforme ao torná-lo perfeitamente uno.